curso DNA

O CRBio 08 realizou, no final de setembro, o primeiro curso com o objetivo de contribuir para o aprimoramento e a atualização de conhecimentos de biólogos. Com cerca de 30 inscritos, o Curso DNA, Genética de Populações e Biodiversidade: Aplicações Forenses e Perspectivas foi ministrado por quatro pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em Salvador.

Para 2016, está prevista a realização de cursos sobre temas de interesse dos biólogos nos outros dois estados da 8ª Região, Sergipe e Alagoas. Além de apoio a eventos importantes para a área, como o II Encontro de Medicina Veterinária e Biologia – EMVBIO, que acontece de 27 a 30 de Janeiro em Aracaju – Sergipe.

Durante o evento em Salvador, o CRBio 08 em Foco conversou sobre a área de genética forense com o coordenador do curso, o biólogo professor doutor Elizeu Fagundes de Carvalho. Pesquisador associado e pós-doutor pela Washington University in Saint Louis, Estados Unidos, Eliseu Fagundes atua na UERJ como professor e coordenador-geral do Laboratório de Diagnósticos por DNA.

elizeu

Professor Eliseu Fagundes de Carvalho

Entrevista com o professor Elizeu Fagundes

CRBio 08 – Podemos falar sobre a área de genética forense para biólogos?

Elizeu Fagundes – Eu acho que é uma área das mais privilegiadas para atuação do biólogo, pois não há outro profissional que tenha, em seu currículo de graduação, a base para fazer genética forense como o biólogo. O biomédico tem um pouco do conteúdo, mas o biólogo, incontestavelmente, está com a sua grade curricular adequada para a possibilidade de atuar nas áreas forenses, especificamente na aplicação do DNA e de outras moléculas para investigações forenses.

CRBio 08 – Como está a área de genética forense no Brasil?

Há cerca de 10 ou 15 anos, o Brasil ainda engatinhava em genética forense. Tínhamos poucos centros, poucos laboratórios e, principalmente, poucas universidades que trabalhavam com isso. De 10 anos para cá, acontece o seguinte: o Ministério da Justiça, a partir da Secretaria Nacional de Segurança Pública – Senasp, começa a montar uma rede de laboratórios, que existem em cerca de 15 estados, atualmente. Em Salvador, na Bahia, há um, que é um considerado de referência.

Esses laboratórios abriram campo para biólogos. Se você for no laboratório de Salvador, existem ao menos dois biólogos à frente das aplicações forenses do DNA. Inclusive, a reunião que deu um marco definitivo para essa transformação brasileira de poder fazer genética forense de muita qualidade foi aqui na Bahia, em 2009. Houve um encontro em Praia do Forte, quando o Brasil aderiu formalmente ao CODIS [Combined DNA Index System e, em português, Sistema Combinado de Índices de DNA é o sistema americano de banco de dados para DNA], para ter bancos de dados com perfis genéticos de criminosos ou suspeitos e poder fazer buscas a partir de programas de computação. Os Estados Unidos têm esse método desde 1995. Isso causou um crescimento acentuado de oportunidades para o biólogo nesta nova fase da genética forense no Brasil.

A tendência é se elevar, porque a genética forense realizada atualmente no Brasil está restrita praticamente à genética forense humana, mas existe a que envolve a análise da genética de outros seres. O mapeamento da biodiversidade brasileira com fins de conhecer o perfil genético da nossa flora e da nossa fauna também tem aplicação na área forense, porque não é raro ouvirmos histórias de alguém que foi preso tentando embarcar com ovos de aves brasileiras que estão sendo contrabandeados. Muitas vezes, na época da defensa, em que é proibido caçar ou pescar alguns tipos de animais, pessoas são surpreendidas com espécies que eles dizem não estar na defensa, mas o DNA mostra qual é a espécie. Portanto, está nascendo no Brasil o uso da genética forense para a defesa da nossa fauna e da nossa flora, que é um campo vastíssimo para atuação de biólogos.

CRBio 08 – Pode nos contar um pouco sobre o laboratório de genética coordenado por você na UERJ? Como são as parcerias dele?

O laboratório completará 19 anos em dezembro. As nossas parcerias principais são com o Poder Público, especialmente com o Tribunal de Justiça e o Ministério Público do Rio de Janeiro. No passado, também tivemos parceria com o Ministério da Justiça, com a Polícia Federal, porque não havia ainda essa rede de laboratórios, que foi implantada na última década.

Nós trabalhamos com o TJ há quase 20 anos, em uma parceria que permite a remessa para a Universidade de todas as investigações de vínculo genético entre humanos que envolva partes com gratuidade de justiça. São cerca de 500 a 600 perícias a cada mês, ou seja, uma análise dos cruzamentos genéticos de quase de 2 mil pessoas por mês.

Essa parceria é muito importante para a comunidade, para a Universidade e para o TJ, porque dá celeridade aos processos. Em setembro, entregamos provas técnicas de processos que tiveram início no último trimestre de 2014 e até do início de 2015. O processo iniciou há seis meses, o juiz percebeu a necessidade da prova de DNA, cadastrou no Tribunal, mandou para o laboratório, que tem o prazo de 60 dias para remeter o laudo técnico.  No passado, uma investigação como essa levava anos. Isso vem trazer conforto à sociedade e ao magistrado. Claro que o DNA não é a sentença, mas é uma prova muito difícil de ser contestada. O Tribunal e o Ministério Público mantêm esse convênio com a UERJ, pagando diretamente à universidade, para que a gente possa fazer isso com a maior qualidade e a maior celeridade possível.

CRBio 08 – Quais as características que o biólogo precisa ter para trabalhar com genética forense?

Eu acho que é a característica do pesquisador, do inspetor dentro de um laboratório. Ele tem que estar atento, tem que estar focado no que está fazendo. Na minha equipe, tem de 10 a 12 biólogos trabalhando, sendo que alguns estão comigo há 20 anos. São pessoas que desenvolveram uma verdadeira paixão, uma dedicação por aquilo. Eles não têm a necessidade de trabalhar à noite, de virar a noite, é uma leveza muito grande no trabalho porque eles estão focados no que fazem. Como em qualquer profissão que você vá exercer, é importante gostar do que faz e estar focado no trabalho.

CRBio 08 – Para quem já é biólogo e quer entrar na área de genética forense, qual seria a dica que você daria?

Bem, o que estamos fazendo aqui é uma das dicas: começar a fazer um curso de atualização ou de especialização, pois isso entra no currículo do profissional. Na UERJ, por exemplo, nós temos o mestrado profissional que envolve esta área, o Mestrado Profissional em Saúde, Medicina Laboratorial e Tecnologia Forense. Procurar cursos de especialização, treinamentos e estágio em laboratórios, no caso de estudantes, para que possa ter condições de exercer com mais qualidade a atividade de perícia e genética forenses. Para ter uma base, o aluno pode buscar um laboratório que atue em área próxima, como genética de populações. É imprescindível, para aplicar a genética forense, saber de genética das populações, biologia molecular e essas são áreas pelas quais os alunos podem começar para chegar em genética forense.