O presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Hernan Chaimovich, lançou nesta quarta-feira (6) o documentário Banco de Abrolhos: Maior Complexo Coralíneo do Atlântico Sul, exibido pela primeira vez ao público no pavilhão do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) na 68ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Porto Seguro (BA). No lançamento, ele chamou a atenção para os impactos “dramáticos” das mudanças climáticas nos oceanos.
“Todos já sabemos que a Terra passa por um período de mudança climática – e boa parte desse aumento de temperatura é culpa nossa, pela emissão de dióxido de carbono e outros gases”, lamentou Chaimovich. “Daqui a alguns anos, se a gente não fizer nada, o Brasil vai deixar de produzir café, por exemplo. As plantações podem se deslocar ao sul, rumo à Argentina. Isso no continente. No mar, acontecem coisas dramáticas. A temperatura vem subindo em algumas regiões e gerando branqueamento de coral, efeito da perda de microalgas.”
Responsável pelo documentário e pelas pesquisas, a Rede Abrolhos observou aumento da temperatura média da água no final do verão de 2016 e anomalias térmicas nos últimos dois anos. O grupo realiza um registro sequencial do fenômeno de branqueamento e avalia a resistência dos micro-organismos ao calor. A perda de algas pode gerar morte de recife coralíneo – motivo de estudos complementares, acerca de sua capacidade de recuperação.
Nas palavras de Chaimovich, o documentário representa “um banho de ciência e compromisso com o Brasil”. O presidente do CNPq lembrou que a Rede Abrolhos é um dos 30 sítios de referência do Programa de Pesquisa Ecológica da Longa Duração (Peld). “Temos algumas iniciativas que eu definiria como joias da coroa e uma delas é o Peld, criado em 1999 para gerar conhecimento sobre os nossos ecossistemas e a biodiversidade que eles abrigam.”
Dimensão
Localizado no Atlântico, em uma área de 46 quilômetros quadrados (km²) entre o sul da Bahia e o norte do Espírito Santo, o Banco de Abrolhos é o maior complexo coralíneo do oceano no Hemisfério Sul. “O estado da Paraíba tem 45 mil km²”, comparou o pesquisador Gilberto Amado-Filho, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ). “Então, é como se a gente tivesse uma Paraíba inteira a até 120 metros de profundidade, em uma região conhecida como zona fótica, na qual a luz penetra e permite que os organismos possam fazer fotossíntese e se desenvolver, com bastante biodiversidade, de onde se tira o sustento de milhares de pessoas em cidades costeiras como Caravelas e Nova Viçosa.”
No documentário, de 30 minutos, o pesquisador Rodrigo Moura, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que “recifes são os sistemas com a maior biodiversidade do planeta, importantes também para o ciclo do carbono e o equilíbrio das condições do oceano, como provedores de serviços ecossistêmicos muito valiosos, a exemplo de recursos pesqueiros. Além disso, são registradores da história climática do planeta”.
A Rede Abrolhos integra ações institucionais com objetivo de caracterizar, descrever e monitorar os diferentes habitats do Banco dos Abrolhos. “Somos uma rede, formato importante para estudos multidisciplinares e até interdisciplinares”, definiu o pesquisador Alex Bastos, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). “A nossa iniciativa traz, dentro do Peld e de outros programas, um conceito de se estudar uma região, como vocês puderam ver, sob várias óticas, sob vários pontos de vista. Temos um grupo de professores de vários perfis e trabalhamos juntos para otimizar o recurso para pesquisa.”
Bastos enumerou enfoques de pesquisa em conservação, entendimento do ecossistema e mapeamento do fundo marinho. “Na nossa equipe temos profissionais da área de ciências do mar de diferentes formações”, disse. “São 15 pesquisadores e mais de 50 alunos de pós-graduação, de mestrado e doutorado, atuando diretamente para atingir os objetivos da rede.”
Segundo Moura, um dos papéis do grupo é ajudar na gestão das reservas de conservação existentes, subsidiar a criação e o planejamento de novas unidades de proteção e orientar o manejo do espaço restante da região. “Esse tipo de área é uma espécie de atestado de incompetência que o ser humano assina”, comentou. “Quer dizer, temos que colocar uma cerca ali onde há natureza e nós vamos ficar meio de fora. A Convenção sobre Diversidade Biológica preconiza 10% do oceano nesta condição. Mas nós precisamos tratar dos outros 90%. Com eles nós precisamos coexistir. E aí não é de qualquer forma. Então, o projeto também se estruturou nessa direção.”
Até sábado (9), no estande do CNPq na mostra ExpoT&C, a Rede Abrolhos apresenta imagens, outros vídeos e materiais biológicos como algas, colônias corais, esponjas e rodolitos. Também estão em Porto Seguro o pesquisador Fernando Moraes e a mestranda Fernanda Cervi, ambos do JBRJ.
Fonte: MCTIC