O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) está realizando estudos para desenvolver um medicamento alternativo no combate à leishmaniose, a partir de extratos das flores e folhas de uma planta aromática conhecida como catinga-de-mulata (Tanacetum vulgare, da família Asteraceae). Os resultados revelaram-se promissores contra a doença e serão apresentados no V Congresso de Iniciação Científica do Inpa (Conic), que começa nesta segunda-feira (18), no Auditório da Ciência do Inpa. A abertura do Conic será às 10h.

Durante uma semana (18 a 22 de julho), foram realizadas palestras, mesas-redondas e apresentação de 196 trabalhos desenvolvidos pelos bolsistas e orientadores das diversas áreas de pesquisas do Inpa. O programa de Iniciação Científica é voltado para o desenvolvimento da ciência a estudantes de graduação com o objetivo de proporcionar aprendizagem e aperfeiçoamento de jovens talentos, gerando benefícios ao desenvolvimento científico e tecnológico da região.

“Nosso grupo de pesquisa vem rastreando substâncias com atividades leishmanicida com produtos sintéticos, semissintéticos e produtos naturais. E os estudos com a catinga-de-mulata começaram há um ano e meio”, contou a líder do grupo de pesquisa do Laboratório de Chagas e Leishmaniose, a pesquisadora Antonia Maria Ramos Franco.

A pesquisa foi realizada pelo aluno de Pibic e finalista do curso de Farmácia da Faculdade Estácio do Amazonas, Bruno Bezerra Jensen, que produziu extratos com atividades antileishmania para duas espécies do parasita (Leishmania guyanensis e a Leishmania amazonensis), sendo a L. guyanensis a de maior incidência no Amazonas.

Jensen vem colaborando há quatro anos com o grupo de pesquisa da doutora Franco na área de produtos naturais, juntamente com sua coorientadora, Claudia Dantas Comandolli Wyrepkowski, utilizando também a planta conhecida como jucá (Libidia ferrea). Ele explica que a partir de um levantamento de plantas de interesse com atividade antileishmania chegou-se à catinga-de-mulata, que é encontrada facilmente na região amazônica e em outros países, em especial, na Finlândia, onde os estudos são feitos em colaboração com grupo de pesquisa do pesquisador Andriy Grafov, da Universidade de Helsinki.

Por meio da parceria foram obtidos os extratos hexânicos e metanólicos de flores e folhas daquela planta e testados em ensaios biológicos in vitro com o parasito causador da doença na forma promastigota. “Dos extratos testados contra L. guyanensis e L. amazonensis, o extrato metanólico de flores teve mais eficácia com índices de concentração inibitória suficiente para inibir 50% (IC50) das formas parasitárias”, explica Jensen.

Segundo o estudante, a partir daí e levando-se em consideração a grande problemática quanto à terapêutica da doença, surge a necessidade de novas alternativas para buscar um medicamento mais eficaz e com menos efeitos colaterais, como, insuficiência renal, hipotensão e hipopotassemia, reações estas apresentadas pelas drogas preconizadas pelo Ministério da Saúde para essa doença.

“Possivelmente, a partir de testes farmacológicos, pode-se criar uma formulação mais acessível e de fácil uso pela população para combater a Leishmaniose, que é considerada um problema de saúde pública na região amazônica”, diz Jensen, acrescentando que, atualmente, a doença é combatida por meio da droga conhecida por Glucantime®.

De acordo com Franco, a Organização Mundial da Saúde já vem preconizando o uso de medicamento contra a leishmaniose e uma das possibilidades seria a combinação entre sintéticos e fitoterápicos.

Jensen também conta que a catinga-de-mulata tem sido alvo de diferentes estudos em diversas atividades farmacológicas. Por ter uma ação anti-inflamatória, antimicrobiana e antimalárica, há a necessidade da continuidade, numa próxima etapa, com estudos citotóxicos e contra o protozoário na forma intracelular, para verificar a eficácia terapêutica e sua importância como candidata no tratamento da leishmaniose.

Congresso
A palestra de abertura do V Conic, na manhã desta segunda-feira (18), será proferida pelo professor do Instituto Federal do Amazonas (Ifam), Valdely Kinupp, que falará sobre as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) no Brasil, mesmo nome do livro de autoria do professor em parceria com Harri Lorenzi.

O Conic é uma parceria do Inpa com o Conselho nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

Fonte e Imagem: Inpa | Luciete Pedrosa