Estudo pioneiro realizado no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) relata como uma espécie de rã consegue viver com as formigas, conhecidas popularmente como saúvas. O estudo mostra que a rã utiliza biomoléculas na pele que inibem a resposta agressiva das formigas, permitindo que viva pacificamente nos formigueiros sem ser atacada. Os resultados da pesquisa foram recentemente publicados na revista Behavioral Ecology and Sociobiology.

A pesquisa foi realizada pelo biólogo André Barros, orientado pela doutora em Ecologia, a pesquisadora do Inpa Albertina Pimentel Lima e co-orientado pelo pesquisador doutor Jorge Luis López-Lozano, da Fundação de Medicina Tropical, para obtenção do título de mestre em Ecologia pelo Inpa.

De acordo com Barros, as saúvas, que são formigas cortadeiras do gênero Atta, não atacam a rã Lithodytes lineatus (da família Leptodactylidae), mas agridem outras espécies de anuros (sapos, rãs e pererecas). Conforme o biólogo foram feitos alguns experimentos e indivíduos do sapo Rhinella major embebidos com extratos feitos a partir da pele da rã L. lineatus foram protegidos do ataque das formigas, enquanto indivíduos da mesma espécie embebidos apenas com água ultrapura foram atacados.

A hipótese apontada é que a pele da rã possui substâncias químicas que imitam o reconhecimento químico usado pelas formigas cortadeiras do gênero Atta.

Segundo o biólogo, mimetismo e camuflagem químicos são estratégias utilizadas por invertebrados parasitas de insetos sociais (formigas, cupins, vespas e abelhas), mas o uso da estratégia por vertebrados para evitar ser detectado por esses insetos tem sido pouco reportado.

Barros explica que a comunicação entre os membros da colônia de insetos sociais ou parasitas destas colônias, muitas vezes tem uma base química. “No caso dos parasitas, produtos químicos servem para imitar ou mascarar a sua presença dentro da colônia”, diz. “Anuros, em geral, têm muitas defesas químicas em suas peles, geralmente usadas para proteção contra fungos, bactérias e predadores”, acrescenta.

Ainda, de acordo com o biólogo, o papel dos produtos químicos derivados da pele, nas interações entre rãs e invertebrados, raramente foram registradas, exceto nos casos de relações mutualísticas ou comensais – (relação entre duas espécies diferentes em que ambas se associam e se beneficiam) – envolvendo algumas espécies de sapos Microhylideos e aranhas Theraphosides.

“Da mesma forma, associações entre sapos e formigas são pouco relatadas na literatura, sendo conhecidas apenas as espécies de anuros Kassina fusca, K. senegalensis e Phrynomantis microps vivendo em ninhos de formigas na savana africana”, explica.

Segundo o mestre em Ecologia, nas Américas, a única associação conhecida até o momento entre formigas e anuros ocorre entre a rã Lithodytes lineatus e as formigas Atta. “Essas rãs não apenas usam os ninhos como abrigo, mas também como sítio reprodutivo, construindo ninhos dentro dos ninhos”, destaca.

Comunicação
Na Amazônia, os mecanismos utilizados pela rã Lithodytes lineatus para viver com as saúvas ainda não haviam sido estudados. Sabe-se, porém, que as colônias das formigas Atta utilizam substâncias químicas para reconhecimento e comunicação.

Barros explica que feromônios produzidos e armazenados em glândulas localizadas em diferentes partes do corpo das formigas Atta são as principais vias de comunicação entre os membros da colônia e desencadeiam comportamentos específicos. É possível classificá-los em feromônios de alarme, de territorialiedade, de marcação de trilhas e de reconhecimento de parceiros de ninho.

O biólogo atualmente é aluno de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ecologia no Inpa, ainda sob orientação da pesquisadora doutora Albertina Pimentel Lima e co-orientado pela pesquisadora doutora Cecilia Veronica Nunez. O doutorando continua investigando mais aspectos acerca da biologia da interação entre a rã Lithodytes lineatus e as formigas Atta.

Fonte: Ascom Inpa
Foto: Albertina Lima