Cientistas da Universidade de Manchester mostraram pela primeira vez que, se o cérebro estiver “sintonizado” em uma certa frequência, a dor pode ser atenuada.

A dor crônica — que dura por mais de seis meses — é um problema real para muitas pessoas: estima-se que cerca de 20 a 50% da população geral sofram com o problema (respondendo por 20% das consultas em clínicas não especializadas).

O problema afeta ainda mais os idosos: 62% da população acima dos 75 anos no Reino Unido sofre de dor crônica. Ela é uma mistura de dores agudas recorrentes e dor persistente e crônica. Infelizmente, existem poucos tratamentos disponíveis completamente seguros, sobretudo para idosos.

Células nervosas na superfície do cérebro são coordenadas umas com as outras em uma frequência específica, dependendo do estado do cérebro. Recentemente estudos associaram ondas alfa, que possuem a frequência de 9 a 12 ciclos por segundo, à partes do cérebro relacionadas ao controle superior influenciando também outras partes do cérebro.

Pesquisadores do Grupo de Pesquisa de Dor Humana da Universidade de Manchester descobriram que as ondas alfa da parte da frente do cérebro, o encéfalo frontal, estão associadas à analgesia placebo, e podem influenciar o modo com outras partes de cérebro processam a dor.

Isso levou à ideia de que se pudermos “sintonizar” o cérebro para que ele expresse mais ondas alfa, talvez possamos reduzir a dor experienciada por pessoas em determinadas condições.

A doutora Kathy Ecsy e seus colegas do Grupo de Pesquisa de Dor Humana da Universidade de Manchester mostraram que isso pode ser feito fornecendo aos voluntários óculos que piscam uma luz no intervalo das ondas alfa, ou ainda através da estimulação sonora em ambas as orelhas, na mesma frequência de estímulo. Eles descobriram que tanto a estimulação sonora quanto a visual reduziram significativamente a intensidade da dor induzida por um laser de calor disparado na parte de trás do braço.

O professor Anthony Jones é diretor da Consórcio de Dor de Manchester, cujo foco é melhorar o entendimento e tratamento para dor crônica. Ele diz: “Isso é bastante animador porque fornece uma terapia potencialmente nova, simples e segura que pode ser testada em pacientes. Em alguns recentes eventos de engajamento público, observamos muito entusiasmo por parte de pacientes em relação a essa nova abordagem neuroterapêutica”.

Mais estudos são necessários para testar a eficácia em pacientes com diferentes condições de dor, mas a simplicidade e o baixo custo da tecnologia devem facilitar esses estudos clínicos.

O doutor Chris Brown, que é professor de Psicologia na Universidade de Liverpool, e esteve envolvido na pesquisa enquanto trabalhava em Manchester, afirmou: “É interessante que resultados semelhantes tenham sido obtidos com estimulação visual e auditiva, o que permitirá alguma flexibilidade quando essa tecnologia for utilizada em estudos com pacientes. Por exemplo, isso deve ter utilidade específica para pacientes com dificuldade de dormir por causa de dores noturnas recorrentes”.

Fonte: Scientific American Brasil