A alta incidência de um tipo específico de coral na costa do Brasil põe em risco a vida marinha e a biodiversidade. É o que avaliam pesquisadores nacionais e internacionais que se reuniram na segunda-feira, 21 de novembro, em Brasília, para discutir o crescimento das colônias do chamado Coral-sol, oriundo da Ásia, que se espalhou da costa da Bahia até o Rio Grande do Sul nos últimos anos, levando à extinção algumas espécies nativas de corais e gerando prejuízo para a fauna e a flora marinha.
“Há uma invasão de Coral-sol no Brasil tomando conta de toda a costa. Algumas pesquisas mostram que essa espécie começa a matar outras nativas e muda o cenário da biodiversidade local. Pensando nisso, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações [MCTIC] reuniu um grupo de especialistas para nivelar os conhecimentos existentes sobre o assunto, entender o que outros lugares do mundo estão fazendo nessa situação e ajudar o Ministério do Meio Ambiente [MMA] a tomar uma decisão baseada em ciência”, explicou o coordenador-geral de Oceanos, Antártica e Geociências da pasta, Andrei Polajeck.
Segundo ele, entre os especialistas brasileiros, australianos, neozelandeses e norte-americanos que participaram das discussões, há quem seja a favor de dizimar o Coral-sol. “Outros não acham que isso seja a solução. Como resultado dessa atividade, vamos elaborar um relatório, que deverá ser publicado até fevereiro do ano que vem, para ajudar o MMA a tomar a melhor decisão sobre um plano de atuação”, acrescentou Polejack.
Beleza nociva
De cores fortes e vivazes, em tons amarelos, rosas, roxos e verdes, o Coral-sol é uma das mais belas formações do oceano, mas igualmente nociva às espécies nativas de corais, bem como à fauna e flora da costa marítima brasileira. Pode se instalar e se espalhar entre 15 centímetros a 50 metros de profundidade. No Rio de Janeiro, tornou-se uma praga na Baía de Ilha Grande.
“Ele se regenera rapidamente a partir de qualquer pedaço, de qualquer sobra. Há suspeitas de que os corais vieram para a costa do país nas plataformas de petróleo ou pelas boias em alto mar”, afirmou Polajeck.
Segundo o professor de ecologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Joel Creed, as espécies ficam encrustadas nos cascos das plataformas. “Não há registros dessa espécie em águas de lastro de navios, por exemplo, mas desde a década de 1990 há registros em plataformas de petróleo. Provavelmente, vieram para o país nas plataformas de petróleo rebocadas da Ásia, da região costeira de países como Indonésia e Cingapura.”
De acordo com o pesquisador, uma alternativa para dizimar e controlar a incidência do Coral-sol na costa brasileira seria limpar as plataformas ou retirá-las do mar por alguns dias. “É uma questão de biossegurança. É possível retirar a plataforma e limpá-la ou deixar que fique fora da água do mar por alguns dias para que esses organismos morram naturalmente”, afirmou.
Prevenir e remediar
Na avaliação do professor de ecologia marinha e gerenciamento costeiro do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP) Alexander Turra, é preciso trabalhar na prevenção e controle. “Temos que reforçar as ações para prevenir a incidência dessa espécie e, nos locais que já tem incidência, criar mecanismos eficazes para combater o Coral-sol. Isso passa pelo desenvolvimento de tecnologias para detecção e remoção e o envolvimento das pessoas e instituições em rede ao longo da costa brasileira. Temos uma invasão generalizada e agora temos que prevenir e remediar”, explicou.
Professor de ecologia marinha da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Francisco Barros é um dos pesquisadores brasileiros que realizaram experimentos com a espécie na última década. Em seus estudos com amostras da Baía de Todos os Santos, ele confirmou que o Coral-Sol é capaz de modificar o ecossistema marinho.
“Temos alguns experimentos. Em um deles constamos que, quando colocadas com espécies nativas de corais, aumenta a mortandade em pelo menos duas espécies nativas da Baía de Todos os Santos. Em locais de alta densidade de Coral-sol, observamos que o restante da fauna dos substratos bentônicos marinhos sofre modificação, interferindo também a vida dos peixes”, explicou.
Para ele, o MCTIC assumiu a responsabilidade sobre uma causa que deveria ter sido olhada com mais atenção há anos. “Esse workshop do ministério é uma iniciativa louvável, pois já está mais que na hora da gente ter um tipo de diretriz e manejo nacional, porque é uma espécie que causa impactos importantes sobre a biodiversidade de ecossistemas marinhos, bem como no funcionamento desses ecossistemas”, disse.
O gerente-geral de Meio Ambiente da Petrobras, Alexandre Fachin, também ressaltou a iniciativa do MCTIC. “O workshop Coral-sol tem o objetivo comum de todos os envolvidos de buscar soluções ambientalmente corretas e que sejam factíveis e exequíveis, permitindo aliar o desenvolvimento econômico do país com as questões ambientais. Ouvir opiniões de todos os segmentos que atuam no ambiente marinho e trazer estudos de palestrantes internacionais enriquece o debate e a busca de soluções”, afirmou.
A atuação do MCTIC nessa ação se dá no âmbito da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Cirm), com participação dos ministérios do Meio Ambiente, Relações Exteriores e Defesa, Petrobras, Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Ministério Público.
Fonte: MCTIC
Imagem: USP