As temperaturas quentes e frias da água ao longo de um extenso trecho do litoral fazem com que novas espécies de peixes marinhos evoluam sem estarem isoladas de peixes semelhantes, de acordo com um novo estudo internacional.
As descobertas desafiam a crença de que novas espécies marinhas só podem evoluir em ambientes isolados, e fornecem um vislumbre das fases iniciais do surgimento de espécies no mar. A pesquisa também sugere que correntes com diferentes temperaturas, que são conhecidas por influenciar a distribuição de espécies no mar, também podem impulsionar a evolução de novas espécies.
Uma equipe de pesquisadores da África do Sul e Austrália, liderada por Peter Teske, da Universidade de Johannesburg, e por Luciano Beheregaray, da Universidade de Flinders, usaram informações coletadas do DNA para testar como populações regionais de uma espécie costeira de caboz são influenciadas por correntes com temperaturas diferentes.
Este peixe é encontrado ao longo da costa sul-africana, que é dividida em regiões definidas pela temperatura, incluindo frio-temperado, temperado quente, subtropical e tropical. A equipe descobriu que, embora as populações regionais de caboz sejam semelhantes, elas têm diferenças genotípicas conforme a diferença de temperatura da água. “Cada população regional já está adaptada ao seu habitat térmico preferido, e os migrantes que se dispersam em regiões próximas que estão muito quentes ou muito frias não se sairão tão bem quanto os locais”, diz Teske.
Em contraste, o restante dos genes não apresenta diferenças identificáveis ainda. “Com o tempo, o restante do genoma irá mudar junto com os genes selecionados pela temperatura, e, mais tarde, as novas espécies também mudarão morfologicamente. Só então elas serão reconhecíveis sem a ajuda de métodos genéticos.”
Os resultados têm implicações importantes para o manejo de espécies ameaçadas ou exploradas e estoques de peixes em todo o mundo. “Quando várias espécies muito jovens que já não podem viver nos habitats umas das outras são todas tratadas como uma única espécie, isso pode resultar na sobrepesca de estoques localmente adaptados, ou na extinção de uma espécie rara que foi confundida com sua vizinha mais abundante”, diz o pesquisador da Universidade de Flinders, Beheregaray.
O trabalho foi publicado na revista científica Proceedings da Royal Society B e também inclui cientistas marinhos da Universidade de Stellenbosch e Jonathan Sandoval-Castillo, da Universidade de Flinders.
Fonte: Scientific American Brasil