Os atuais modelos climáticos sugerem que as árvores têm capacidade de remover grande parte das emissões de gases de efeito estufa causadas pelo homem da atmosfera. No entanto, uma nova pesquisa indica que a capacidade de absorção da floresta é limitada pelo conteúdo de fósforo no solo. Publicado na revista Nature Geosciences, nesta segunda-feira (05/08), o estudo é resultado de uma cooperação científica internacional com participação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
A Amazônia atua como um grande sumidouro de carbono, absorvendo até um quarto de tudo o que florestas absorvem de carbono a cada ano. E, em um processo conhecido como fertilização de CO2, com o aumento da concentração de carbono na atmosfera, os atuais modelos sugerem que haverá também um aumento desta absorção pelas florestas por muitos anos.
“Porém, esta capacidade da floresta absorver o CO2 atmosférico não é infinita”, afirma Celso Von Randow, pesquisador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST) do INPE e coautor do estudo. “Para explorar como a floresta pode responder a diversas mudanças ambientais, uma ferramenta de grande valia é combinar experimentos de campo com simulações de modelos da biosfera terrestre”.
Esta é a proposta do projeto AmazonFACE, em implementação numa área de floresta preservada ao norte de Manaus. O experimento consistirá em borrifar um grande volume de CO2 sobre algumas parcelas de floresta para estudar como as árvores ali reagem a uma maior concentração de carbono no ar e, de maneira inédita, quantificar em campo como os nutrientes como o nitrogênio e fósforo efetivamente limitariam a fertilização de CO2.
“Um experimento deste tipo é extremamente importante pra reduzir as incertezas de modelos climáticos e melhor informar como a Amazônia vai reagir à mudança do clima”, diz Jean Ometto, chefe do CCST/INPE e membro do comitê científico do AmazonFACE.
Dos 14 modelos de biosfera usados pelos cientistas no estudo da Nature Geosciences, três consideravam apenas o ciclo de carbono e cinco também levavam em conta o nitrogênio. Outros seis incluíam o fósforo. “Quando comparados uns com os outros, as simulações indicaram que a escassez de fósforo do solo amazônico pode comprometer em cerca de 50% a capacidade das árvores de absorver o carbono extra que estará no ar”, explica Von Randow.
Esses resultados ainda precisam ser confirmados pelo experimento em campo, mas mostram que os atuais modelos climáticos que omitem os efeitos do fósforo no crescimento das plantas possivelmente superestimam a remoção de carbono pelas florestas tropicais. As descobertas também sugerem que a floresta amazônica poderia estar mais ameaçada pelas mudanças climáticas do que se pensa atualmente – acrescentando ainda mais pressão sobre os ecossistemas que mais rapidamente diminuem na Terra.
Fonte e Imagem: Inpe