Quando se trata de estar disposto a explorar opções mais eficientes para resolver um problema, os macacos exibem uma flexibilidade cognitiva maior do que os humanos, de acordo com um novo estudo de pesquisadores da Universidade Estadual da Georgia, nos Estados Unidos.
“Somos uma espécie única e há várias maneiras pelas quais somos excepcionalmente diferentes de todas as outras criaturas do planeta”, diz Julia Watzek, pós-graduanda em psicologia na Universidade Estadual da Georgia. “Mas, às vezes, também somos muito burros.”
Watzek foi a autora principal de um artigo publicado na revista Scientific Reports, ilustrando como os macacos capuchinhos e macacos-rhesus são significativamente menos suscetíveis do que os humanos a permanecer em predisposições cognitivas quando se deparam com a chance de mudar para uma opção mais eficiente. Os resultados da pesquisa apoiam estudos anteriores com outros primatas, como babuínos e chimpanzés, que também mostraram uma maior disposição para tentar usar atalhos opcionais a fim de ganhar uma recompensa em comparação com seres humanos, que persistiram em usar uma estratégia familiar já aprendida, mesmo com sua relativa ineficiência.
“Acho que estamos ficando cada vez menos surpresos quando primatas se mostram mais espertos que humanos”, diz Watzek.
O experimento testou a capacidade de estabelecer uma estratégia específica para levar a uma solução de um problema. Por tentativa e erro, macacos e humanos tiveram que seguir um padrão em um jogo de computador, tocando, na ordem: um quadrado listrado, depois um quadrado pontilhado e, quando aparecia, um triângulo para atingir a meta e receber uma recompensa. Para os humanos, a recompensa era uma música ou pontos, para que eles soubessem que acertaram. Para os macacos, era um pedaço de banana. Resultados errados levavam a um breve intervalo e nenhuma recompensa.
Depois que a estratégia foi aprendida, os experimentos subsequentes apresentavam a opção do triângulo imediatamente, sem ter que pressionar os quadrados anteriormente. Todos os macacos usaram rapidamente o atalho, enquanto 61% dos humanos não o fizeram. De fato, 70% de todos os macacos usaram o atalho na primeira vez que ele estava disponível, comparado a apenas um humano. O estudo envolveu 56 humanos, 22 macacos capuchinhos e 7 macacos rhesus.
Sobre o comportamento humano demonstrado no estudo, Watzek explica: “Existe uma forte dependência em relação ao aprendizado rotineiro e à maneira como nós somos ensinados. Nesse caso, eles foram ensinados a não usar o atalho”.
“De fato, mais humanos usam o atalho depois de ver um vídeo de alguém o fazendo, mas cerca de 30% ainda preferem não usá-lo”, diz Watzek. “Em outra versão do estudo, dissemos a eles que não deveriam ter medo de tentar algo novo. Nesse caso, mais deles usaram o atalho, mas mesmo assim muitos não usaram.”
O estudo ilustra como os humanos podem sofrer com propensões aprendidas que podem nos levar a tomar decisões ineficientes e, consequentemente, perder oportunidades. Frequentemente, seguir o que é familiar e seguro — como a mesma rota de ida e volta do trabalho, por exemplo — não é um grande problema, com baixos custos em relação a alternativas. Outras vezes, no entanto, o uso de práticas ineficientes, enviesadas ou desatualizadas pode ter consequências de longo alcance. Um exemplo seria a crise financeira global mais recente, quando muitos especialistas ignoraram os avisos de instabilidade e continuaram praticando hábitos de comércio e de empréstimos arriscados, que levaram a um colapso do mercado imobiliário.
“Preparar-nos para uma boa tomada de decisões, às vezes, significa mudar as opções disponíveis”, diz Watzek. “Não estou propondo derrubar todo o sistema educacional ocidental, mas é interessante pensar em maneiras pelas quais treinamos nossos filhos a pensar de uma maneira específica e permanecer na caixa, e nunca sair dela. Apenas fiquemos cientes disso. Existem boas razões para fazermos o que fazemos, mas acho que, às vezes, isso pode causar muitos problemas. “
A coautora do estudo, Sarah Pope, ex-estudante de pós-graduação do Instituto de Neurociências da Universidade Estadual da Geórgia, levou o mesmo experimento para a Namíbia e o testou em membros da tribo semi-nômade Himba, que não passa pelo processo de educação ocidental e vive em um ambiente menos previsível. Embora um maior número deles foram mais rápidos em usar o atalho imediatamente, mais da metade ainda usava a abordagem em três etapas.
Já no mesmo experimento aplicado em visitantes do Zoológico de Atlanta, crianças de 7 a 10 anos tiveram quatro vezes mais chances do que os adultos de usar o atalho, mas ainda assim mais da metade delas continuou usando a estratégia aprendida.
“Este foi um ótimo exemplo de como um estudo simples e elegante pode ter um enorme impacto em vários contextos”, diz Sarah Brosnan, professora de psicologia que supervisionou o estudo e foi coautora do artigo. “Ele contribui para o escopo maior da literatura sobre por que os humanos são tão diferentes de outros primatas”.
Fonte: Scientific American Brasil