Praias, rios e manguezais da Bahia, Alagoas e Sergipe foram visitados pela equipe do CRBio-08 entre dezembro de 2019 e março de 2020, quando foi possível realizar uma avaliação do impacto ambiental e socioeconômico em 28 localidades. Foram colhidos depoimentos de banhistas, pescadores, presidentes de Colônias de Pesca, marisqueiros, barraqueiros e empresários dos ramos do turismo e alimentação, segmentos que sustentam a economia destas regiões.
Após mais de um ano do desastre, as investigações ainda tentam identificar os responsáveis.
O enfrentamento à crise contou com ações do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Marinha do Brasil, governos estaduais, prefeituras e voluntários.
Até o momento, não há qualquer evidência com base científica que comprove a contaminação de peixes, mariscos e crustáceos no litoral dos estados da Bahia, Alagoas e Sergipe, gerada por este desastre ambiental, que justifique a suspensão do consumo.
LITORAL NORTE DA BAHIA
A equipe do CRBio-08 esteve em sete localidades deste trecho do litoral baiano onde estão as praias que recebem o maior fluxo de turismo do estado durante a alta estação. Desde o fim do ano passado, com a queda na movimentação de visitantes, o cenário mudou. Da mesma forma que as praias desertas permitiram que alguns animais marinhos, como as tartarugas, encontrassem o espaço propício para a desova, quem depende das atividades no mar se viu sem ter de onde tirar o sustento.
Os pescadores e marisqueiras resistiram inicialmente a conversar com a equipe de comunicação do CRBio-08 por causa do receio de que a divulgação das informações pudesse afastar ainda mais a chegada dos turistas, que, por sua vez, evitavam comer o pescado por risco de uma eventual contaminação.
Foram visitadas as praias de Jauá, Guarajuba, Itacimirim, Praia do Forte, Porto Sauípe, Barra do Itariri e Arembepe, onde encontramos o pescador Seu Vavu, que se queixou do impedimento de realizar as atividades no mar por causa das manchas durante meses.
Tanto em Arembepe quanto em Praia do Forte, os presidentes das Colônias de Pesca Z-14 e Z-38, Manoel de Brito e Luciano Nascimento, respectivamente, disseram que o pagamento do Auxílio Pecuniário Emergencial para os trabalhadores artesanais, criado na Medida Provisória 908/2019 do Governo Federal, não foi liberado para a maioria dos profissionais da região e até mesmo para quem estava com o Registro Geral de Atividade Pesqueira (RGP) ativo.
À frente de um restaurante tradicional de Arembepe, Dona Coló contou que, cerca de um mês antes do início das notícias do vazamento, havia realizado um alto investimento na estrutura do estabelecimento. Após o surgimento do óleo nas praias, o impacto para a saúde financeira do restaurante foi grande a ponto de Dona Coló solicitar um empréstimo em instituição financeira para continuar tocando o negócio.
Em Itacimirim, o barraqueiro Igor destacou a redução de 60% nas vendas após as notícias do vazamento.
Já em Barra do Itarirí, Seu Zeca, pescador há 25 anos, contou que só encontrava oportunidades de venda por metade do preço habitual.
Confira os depoimentos das comunidades destas regiões:
LITORAL SUL DA BAHIA
Nesta etapa, foram visitadas as praias do Miache, Malhado, Pé de Serra, Itacaré, Algodões e Guaibim, situadas no trecho entre as cidades de Valença e Ilhéus.
Na praia do Malhado, o barraqueiro Antônio Marcos afirmou que o fluxo de turistas permaneceu constante mesmo com os casos de pessoas que se sujavam de óleo ao entrar no mar. O presidente da Colônia de Pesca Z-19, José Leonardo Oliveira, também mencionou a dificuldade dos trabalhadores em ter acesso ao Auxílio Pecuniário Emergencial.
Em Pé de Serra, Carlos Mota, dono de dois restaurantes na região, disse que as manchas podiam ser encontradas na foz do Rio Sargí, mas que após 20 dias de trabalho conjunto dos moradores, voluntários, empresários e poder público, a quantidade de óleo e o tamanho dos fragmentos foram diminuindo.
Na praia de Algodões, a gerente de um restaurante, Alessandra Rossi, disse que o método de enfrentamento da crise, focado na comunicação e na limpeza, foi montado com o auxílio de uma empresa especializada em recuperação de acidentes de petróleo, responsável pela divisão da península em três pontos de controle ao longo de dois meses.
Os pescadores da região da praia de Guaibim disseram que passaram cerca de dois meses sem poder retornar ao mar com as embarcações, já que não tinham para quem vender o pescado.
Confira os depoimentos das comunidades destas regiões:
LITORAL DE ALAGOAS
Pontal do Coruripe, Pontal do Peba, Paripueira, Ilha da Crôa, Japaratinga e o Manguezal Ilha de Santa Rita foram os pontos de norte a sul da costa litorânea de Alagoas percorridos pela equipe do CRBio-08.
No acostamento da AL-101, próximo ao manguezal, um morador da região, Cícero, que também trabalha com a captura de caranguejo para a venda, disse que, antes da chegada do óleo, chegava a vender até cinco cordas de caranguejo por dia. Em dezembro de 2019, esse número diminuiu para uma ou duas cordas. O pescador José Antônio, que também trabalha no Manguezal Ilha de Santa Rita, confessou que não esperava receber o Auxílio Emergencial Pecuniário por causa dos relatos de quem não foi contemplado.
No Pontal do Coruripe, Márcio de Sousa Santos se emocionou ao admitir que, vivendo das atividades no mar desde criança, nunca tinha vivido uma situação tão difícil. Sem alternativas de renda, ele continuava a pescar para repassar às poucas pessoas que ainda consumiam na região com preços que chegavam a 30% do valor habitual.
O criador e coordenador do Projeto Praia Limpa, Felipe Santos, lembrou que a primeira informação de óleo na região partiu de um surfista e que, no mesmo dia, em meados de outubro de 2019, encontrou uma tartaruga marinha com o corpo, vias nasais e boca oleados. Foi realizado um trabalho emergencial de desobstrução das vias respiratórias até que uma equipe do Ibama fosse ao local fazer o resgate.
Dono de uma peixaria no Pontal do Peba, Toni Matos apontou a queda de 80% a partir de dezembro.
Em Paripueira, a barraqueira Vânia Simplício informou que a movimentação de saída para as Piscinas Naturais de Paripueira, que chegava a encher os catamarãs com 60 pessoas, passou a sair com 10 a 12 quando havia demanda.
Confira os depoimentos das comunidades destas regiões:
Coordenadas geográficas dos pontos visitados em Alagoas:
LOCAL | LATITUDE (S) | LONGITUDE (W) |
Ilha de Santa Rita | 9° 41′ 708” | 35° 47′ 522” |
Pontal do Coruripe | 10° 09′ 524” | 36° 08′ 177” |
Pontal do Peba | 10° 21′ 338” | 36° 17′ 821” |
Piaçabuçu | 10° 24′ 522” | 26° 24′ 522” |
Lagoa do Pau | 10° 07′ 839” | 36° 06′ 742 |
Praia do Niquim/Barra de São Miguel | 09° 50′ 315” | 35° 53′ 321” |
Praia do Françês | 09° 46′ 165” | 35° 50′ 405” |
Paripueira | 09° 28′ 184” | 35° 32′ 895” |
Ilha da Croa | 09° 24′ 492” | 35° 29′ 796” |
Falácia do Carro Quebrado | 09° 20′ 865” | 35° 27′ 857” |
Barra do Camaragibe | 09° 18′ 786” | 35° 24′ 936” |
Praia do Marceneiro | 09° 17′ 729” | 35° 23′ 719 |
Japaratinga | 09° 05′ 420” | 35° 15′ 454” |
Maragogi | 09° 01′ 287” | 35° 13′ 480” |
LITORAL DE SERGIPE
Praias vazias, queda nas vendas e vestígios do óleo na areia e nas rochas do menor trecho de litoral do Nordeste. A equipe do CRBio-08 visitou as praias da Costa, Mosqueiro, Saco, Aruana, e as localidades da Coroa do Meio, Povo do Mato, Reta dos Abaís, Pontal e Crasto.
Na Praia da Costa, quando perguntado sobre a situação, um banhista mostrou a mancha que estava grudada na própria mão. O barraqueiro Edivaldo “Bigode”, disse que a movimentação de turistas teve queda de 70% e que a alternativa encontrada pelos pescadores foi oferecer peixes de criadouro e guaiamum.
Dona Rosa tem um restaurante no povoado do Povo do Mato e percebeu a queda acentuada nos pedidos de pratos com caranguejo após a veiculação das primeiras notícias sobre o surgimento do óleo na região.
Alguns donos de estabelecimentos disseram que os siris que eram catados na localidade foram utilizados como recheio de pastel e salgados, já que a venda direta do crustáceo já não ocorria mais.
Confira os depoimentos das comunidades destas regiões:
Coordenadas geográficas dos pontos visitados em Sergipe:
LOCAL | LATITUDE (S) | LONGITUDE (W) |
Praia da Concha/Barra | 10° 55′ 729” | 37° 00′ 851” |
Praia do Farol | 10° 58′ 056” | / 37° 02′ 116” |
Praia do Sarnei | 10° 59′ 176” | 37° 02′ 835” |
Praia do Saco | 11° 25′ 640” | 37° 20′ 297” |
Praia do Castro | 11° 23′ 761” | 37° 24′ 623” |
Rio Real | 11° 26′ 006” | 37° 24′ 868” |
Rio Piauí | 11° 00′ 845” | 37° 04′ 037” |