A paleta sortida que colore as cascas dos ovos de diferentes espécies intrigou cientistas durante muito tempo e muitas teorias já foram formuladas para tentar explicar a variedade. Entre as hipóteses formuladas ao longo dos anos, considerou-se que a coloração poderia ser uma camuflagem importante contra predadores, uma barreira extra para mitigar os efeitos da radiação ultravioleta ou até um traço distintivo para ajudar os animais a reconhecerem seus ovos.
Pesquisadores dos Estados Unidos e da Austrália acreditam, no entanto, terem finalmente encontrado a resposta. “Descobrimos que os ovos tendem a ser mais escuros em locais com clima mais frio, e mais claros, ou com cores mais variadas, em áreas mais quentes, próximas à linha do Equador”, disse à BBC News Mundo Daniel Hanley, professor de Ecologia e Evolução na Universidade de Long Island, em Nova York.
Ele e outros cinco colegas analisaram as tonalidades dos ovos de 634 espécies que habitam diferentes regiões do planeta. Com base nos dados, os pesquisadores montaram um mapa de distribuição que mostra que os ovos mais escuros são mais comuns em regiões mais frias. À medida que as espécies se distanciam dos polos, os ovos têm cores mais claras. Os achados foram publicados na revista Nature Ecology and Evolution.
De acordo com o estudo, a palavra-chave que explica a variabilidade é termorregulação. A sobrevivência do embrião dentro do ovo depende da manutenção de determinada temperatura, sem grandes variações. Assim, os ovos mais escuros esquentam mais rápido e mantêm o calor por mais tempo — algo útil quando se vive em um ambiente com baixas temperaturas.
Hanley acrescenta que a incidência de cores mais escuras mais perto dos polos derruba a hipótese de que a radiação ultravioleta seja fator-chave para determinar a cor dos ovos de aves. Isso porque os ovos mais escuros seriam muito mais eficientes para “filtrar” os raios UV — quando, no entanto, são observados em áreas mais distantes do Equador, onde a radiação é menor.
Em regiões mais quentes, as cores não apenas são mais claras, mas mais variadas, com tons que vão do verde ao azul. Dado que a manutenção da temperatura dos ovos não chega a ser uma grande dificuldade para as aves que habitam essas áreas, a maior variedade de cores poderia ser explicada pela influência de outros fatores — o risco de predadores, por exemplo.
“O aumento na diversidade de espécies e climas quentes andam lado a lado e, nesse contexto, entra em cena também o tema da predação, mais animais em busca de alimento para sobreviver”, afirma Indira Rojas, pesquisadora da Ross University e coautora do estudo. “Ainda assim, é importante entender que a coloração da casca dos ovos não é influenciada por apenas um fator, mas por uma combinação de diferentes elementos.”
Pressão de adaptação – Diante dos resultados, Hanley chama atenção para um cenário que considera preocupante: a possibilidade de que o aumento da temperatura resultante do aquecimento global tenha impacto negativo sobre as aves cujos ovos estão adaptados a climas mais frios. “As mudanças climáticas ameaçam toda forma de vida, e devido ao aumento contínuo da temperatura, as aves do Ártico enfrentam grandes desafios”, pondera. “Aves que no passado foram beneficiadas por terem ovos escuros poderiam enfrentar grande pressão para se adaptar.”
Novas perspectivas – “O estudo nos mostra que caraterísticas climáticas e físicas (abióticas) têm um papel fundamental na evolução da cor dos ovos em todas as espécies”, comenta Mark Hauber, professor do Departamento de Evolução, Ecologia e Comportamento da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign.
Até então, ele acrescenta, os cientistas acreditavam a cor da casca sofria maior influência de fatores bióticos — a hipótese da camuflagem para se defender de predadores ou da mimese dos ovos dos hospedeiros no caso de aves que parasitam ninhos de outras espécies.
Fonte: BBC News Mundo