Uma equipe internacional de cientistas realizou o sequenciamento de milhões de genes de 35 mil espécies de bactérias marinhas, 80% dos quais eram desconhecidos até então, em uma pesquisa publicada na quinta-feira (21) pela revista “Science”. Os resultados são fruto das milhares de mostras recolhidas nos oceanos de todo o mundo, entre a superfície e 900 metros de profundidade, de 2009 a 2013 a bordo do veleiro Tara, na expedição científica Tara Oceans, que, segundo os cientistas, permitiu descrever a diversidade do plâncton dos oceanos.

O projeto contou com a participação, entre outros, de cientistas do Instituto de Ciências do Mar (ICM-CSIC) de Barcelona. Segundo a pesquisadora Silvia Acinas, entre os desafios futuros está determinar a função realizada pelos novos genes descobertos para ver seus possíveis usos na biotecnologia e na biomedicina.

De acordo com Ancinas, um dos feitos da expedição, que contou com a participação de cem cientistas de diferentes países, foi “descrever a diversidade microbiana em escala global e a um nível de resolução antes impensável, graças ao uso do sequenciamento em massa de DNA”.

Acinas liderou o estudo sobre o microbioma oceânico junto a pesquisadores do European Molecular Biology Laboratory (Alemanha) e do Vlaams Instituut voor Biotechnologie (Bélgica).

A equipe internacional e interdisciplinar de pesquisadores elaborou um mapa de biodiversidade de vírus, bactérias, arqueias e protistas e explorou suas interações e o impacto de seu entorno, principalmente o da temperatura, estudando parte das 35 mil mostras recolhidas durante quatro anos nos oceanos, recursos “sem precedentes na comunidade científica”.

A pesquisadora enfatizou que nos mares habita a maioria das formas de vida do planeta, os organismos microscópicos do plâncton marinho.

O plâncton é formado por organismos microscópicos: vírus, bactérias, arqueias, protistas e pequenos eucariotas multicelulares, que produzem a metade do oxigênio, atuam como sumidouros de carbono, influenciam no clima e formam a base da cadeia alimentar de peixes e mamíferos marítimos.

Os pesquisadores da expedição Tara Oceans sequenciaram mais de 7,2 trilhões de pares de bases de DNA das comunidades microbianas marinhas, um volume de sequenciamento mil vezes superior a qualquer estudo prévio de diversidade marinha ou de sequenciamento do microbioma de outros ambientes.

Deste modo, foi gerada uma base de dados de 40 milhões de genes chamada “Ocean Microbial Reference Gene Catalog”, entre os quais 80% são novos.

“Um dos resultados mais surpreendentes foi identificar que 67% dos genes do microbioma do oceano são compartilhados por todas as bactérias e arqueias marinhas”, disse a pesquisadora.

As pesquisas de Tara Oceans focaram no estudo da superfície do oceano até um máximo de 900 metros de profundidade. Os dados “serão complementados com os resultados da expedição Malaspina, liderada pelo CSIC e com a participação do ICM, que recolheu mostras do oceano até quatro mil metros de profundidade”, informou Acinas.

Os pesquisadores também estudaram a influência dos fatores ambientais, como a temperatura, o pH e os nutrientes nos organismos microscópicos flutuantes do oceano.

Com isso, viram que, dependendo da temperatura da água, são encontradas comunidades microbianas diferentes e que os redemoinhos oceânicos, como os da corrente das Agulhas – uma barreira natural entre o Oceano Índico e o Atlântico Sul -, separam as comunidades planctônicas.

A expedição Tara Oceans é apoiada pelo Centre National da Recherche Scientifique (França), pelo European Molecular Biology Laboratory (Alemanha) e pela Commissariat à l’Énergie Atomique et aux Énergies Alternatives (França) e conta com a participação de diversas instituições públicas e privadas.

 

Fonte: UOL