Um grupo de pesquisadores identificou 56 novas espécies de insetos aquáticos e terrestres durante expedição científica à Serra da Mocidade, um maciço de montanhas de quase 2 mil metros de altitude, situado num dos lugares mais isolados da Amazônia brasileira, em Roraima. Os resultados da expedição, que durou 25 dias entre janeiro e fevereiro deste ano, começam a ser divulgados agora. Realizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a expediu reuniu 70 pesquisadores, que foram acompanhados por uma equipe de filmagem para a produção de um documentário. A jornada científica contou com o apoio e logística do Comando Militar da Amazônia (CMA), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Parque Nacional Serra da Mocidade.

“O objetivo principal da expedição era achar espécies novas. E achamos”, comemora o ornitólogo Mario Cohn-Haft, pesquisador do Inpa e coordenador da expedição. “Tínhamos mais de 50 pesquisadores em cima da serra por um período de quase um mês, e cada um conseguiu fazer o seu trabalho com eficiência. Isso foi muito positivo.”

Os pesquisadores de sete grupos (geologia; plantas e fungos; invertebrados terrestres e aquáticos; mamíferos (pequenos e médios, e morcegos), peixes; répteis e anfíbios; aves) estão analisando o material coletado na Serra da Mocidade. “Esse trabalho demanda um certo tempo para identificar por causa da ausência de especialistas em diversos grupos amostrados”, explicou a pesquisadora Jeane Nascimento, estudante de doutorado em Entomologia do Inpa.

Segundo ela, 22 novas espécies de insetos aquáticos e 34 de insetos terrestres foram identificadas.

O pesquisador Marcio de Oliveira acrescenta que os insetos correspondem a 80% de tudo que existe no planeta. Os mais conhecidos são formigas, cigarras, borboletas, caranguejos, siris, camarões, aranhas, escorpiões, lacrais e piolho-de-cobra.

Novas espécies de pássaros, plantas e mamíferos também foram descobertas na expedição à Serra da Mocidade. “É muito bicho”, diz Cohn-Haft, citando o registro de mais 1,5 mil espécies de animais e plantas. “Nem tudo é novo, é claro, mas a proporção de coisas novas foi muito alta, porque é um lugar especial, isolado no mundo e totalmente desconhecido.”

Para o diretor do Inpa, Luiz Renato de França, a expedição só foi realizada por causa do trabalho integrado de várias instituições. “Depois de um longo tempo de negociações, a expedição foi possível graças ao apoio do programa Pró-Amazônia do CMA, do ICMBio, do Parque Nacional Serra da Mocidade, além dos pesquisadores, que foram os protagonistas.”

“Agora, vamos ter a oportunidade de ver tudo o que foi coletado e está sendo estudado pelos pesquisadores”, completa o gerente do Pró-Amazônia do CMA, general Franklimberg Ribeiro de Freitas.

Segundo a chefe do Parque Nacional Serra da Mocidade, a bióloga Inara Auxiliadora Rocha Santos, a expedição vinha sendo planejada com o pesquisador Mario Cohn-Haft desde 2002. “Era um sonho também da gestão do parque. Só que não pensávamos que fosse nesta magnitude.”

Resultados
Enquanto os pesquisadores apresentam os resultados da expedição, um grupo de trabalho discute, em parceria com o ICMBio, o Plano de Manejo do Parque Nacional Serra da Mocidade, considerando o potencial da unidade de conservação para visitação pública e a vulnerabilidade. Segundo o analista ambiental e coordenador do parque, Silvio Romerio Briglia, a Serra da Mocidade é um maciço montanhoso que nunca tinha sido visitado. “Foi a primeira vez que se conseguiu acessar a parte alta do parque e a parte vizinha, que pertence ao Exército Brasileiro”, destaca.

Segundo ele, as informações geradas com as espécies descritas vão aportar os recursos e as informações necessárias para a gestão da unidade. “Antes, só tínhamos pesquisas das áreas baixas e agora temos acesso às informações das áreas altas, um lugar diferenciado em termos de diversidade biológica”, diz.

A conclusão do Plano de Manejo do Parque Nacional Serra da Mocidade está prevista para o segundo semestre de 2017. “Após essa data é que se poderá viabilizar a implementação de atividades dentro do parque. Pensamos em implantar turismo de aventura, visitação guiada pelos índios Yanomami, que estão interessados em se tornar parceiros da unidade”, avalia Briglia. “Vamos juntar as informações para fazer o diagnóstico do parque e gerar um documentário sobre a unidade”, acrescenta.

Fonte: Inpa
Imagem: Programa Arpa