O Centro de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (Cepene) iniciou neste mês, junto com o Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a implantação do projeto Radar. O objetivo é monitorar, remotamente, por meio de um sistema de radares, a pesca artesanal na plataforma continental (águas oceânicas) da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, no litoral entre o sul de Pernambuco e o norte de Alagoas. O Cepene e a APA são do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

O monitoramento fornecerá dados precisos sobre áreas de pesca, sazonalidade das pescarias e número de barcos operando em determinada área. Essas informações são imprescindíveis para uma estimativa real do esforço da produção pesqueira e, consequentemente, para estratégias de gestão.

O sistema será útil, também, para evitar acidentes entre barcos pesqueiros e navios cargueiros que circulam pela região da APA. Além disso, permitirá a realização de estudos e monitoramento meteorológicos. Inédito no Brasil, o projeto adota tecnologia simples, que pode ser aplicada em outras unidades de conservação marinhas. O Cepene funcionará como centro promotor da iniciativa.

Diferencial
“Com o projeto, estamos adentrando ao mar, o que nunca foi feito aqui na APA Costa dos Corais. Este é o grande diferencial. Até então as informações sobre a dinâmica pesqueira da frota artesanal que opera na plataforma continental e na borda do talude na região do Nordeste eram obtidas exclusivamente de relatos dos pescadores. Agora, teremos uma ferramenta que nos proporcionará dados temporais e espaciais precisos, aprimorando o trabalho de conservação da biodiversidade marinha”, disse Leonardo Messias, chefe do Cepene.

De acordo com ele, o sistema de radar gera informações, mapeia e monitora a pesca na região da plataforma continental e na quebra do talude (saiba mais sobre esses conceitos no box abaixo) da região da APA. Para isso, foram instalados radares no barco de pesquisa Velella, do Departamento de Oceanografia da UFPE, e no continente, na sede do Cepene, em Tamandaré (PE).

O radar do Cepene foi colocado numa torre de 45 metros de altura, com alcance além da borda da plataforma continental. Já o radar do Vellela monitora de perto, no mar, a movimentação dos barcos pesqueiros. O Velella opera com o Cepene desde 2000, em diversas atividades de pesquisa, mapeamento do fundo do mar, treinamento e ensino.

As primeiras expedições do projeto ocorreram no início deste mês e foram bem sucedidas. Os resultados preliminares mostram uma intensa atividade pesqueira no local, com o registro de pescarias com linha de mão e isca viva, rede, espinhel e compressores.

Segundo Messias, a continuidade do monitoramento no mar vai gerar resultados muito importantes para o conhecimento e gestão da pesca na APA Costa dos Corais e ao norte da região, o que aprimorará, em muito, a regulação das atividades pesqueiras e ações de conservação da biodiversidade marinha.

Redução de acidentes
O chefe do Cepene ressaltou, ainda, que a instalação do sistema de radares contribuirá, também, para a diminuição dos acidentes entre barcos de pesca e navios cargueiros que transitam na plataforma continental da APA Costa dos Corais. Como os barcos de pesca não possuem refletores de radar, os cargueiros não os identificam em seus trajetos, causando o abalroamento. Para evitar isso, o projeto vai investir na confecção e instalação de refletores de radar em 250 barcos de pesca artesanal.

Outra iniciativa resultante da parceria entre o Cepene e o Departamento de Oceanografia da UFPE é o projeto “Processos Oceanográficos de Quebra de Plataforma: subsídios para o Planejamento Espacial Marinho”. Trata-se de projeto de pesquisa financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do MEC, por meio do programa Ciências do Mar II.

De acordo com Messias, devido às dimensões da APA Costa dos Corais, o ICMBio tem operado numa faixa muito restrita, a zona costeira. “Esses projetos conjuntos do Cepene com a UFPE vão ampliar o raio de atuação do Instituto e trazer novas perspectivas para a gestão marinha, com conhecimentos sobre a relação entre as áreas de pesca, as feições geomorfológicas e habitats marinhos da plataforma continental”, concluiu ele.

Saiba mais
Plataforma continental é a faixa de terra submersa existente no litoral dos continentes. Estende-se da linha da praia até a região na qual há um aumento pronunciado da declividade, denominada quebra da plataforma continental ou talude continental (porção dos fundos marinhos com declive muito pronunciado). Geralmente, a plataforma possui uma extensão de 70 a 90 km e profundidade de 200 metros, até atingir as bacias oceânicas. A água que cobre a plataforma continental possui vida marinha em abundância e grande parte da pesca se realiza nesta zona.

Fonte e Imagem: ICMBio