Uma equipe internacional de 60 cientistas acaba de completar estudos que mostram a importância da conservação e regeneração das florestas secundárias na América Latina para a absorção de carbono, o que pode ajudar na mitigação das alterações climáticas. O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) participou dos trabalhos que foram realizados em 43 regiões para quantificar o sequestro de carbono (captura de dióxido de carbono da atmosfera pela fotossíntese). O resultado do estudo foi publicado recentemente na revista Science Advances.
Os estudos, que foram desenvolvidos pela Rede Internacional Secondary Forests e o projeto Partners Reforestation, mostram que 17% da área de floresta na América Latina são florestas secundárias jovens com até 20 anos e 11% são florestas com idade intermediária entre 20 a 60 anos. O estudo também mostra, por meio de um modelo de projeção, que se as florestas secundárias jovens existentes em 2008 fossem deixadas regenerar por 40 anos, sua capacidade de armazenamento de carbono dobraria no período, enquanto nas florestas intermediárias o estoque de carbono aumentaria em 120%.
Juntas, elas respondem por 31,09 bilhões de toneladas de CO2 (dióxido de carbono), que é igual a todas as emissões de carbono provenientes do uso de combustíveis fósseis e outros processos industriais em todos os países da América Latina e do Caribe de 1993 a 2014. Somente dez países são responsáveis por 95% desse potencial de armazenamento de carbono, liderado pelo Brasil que responde por 71% desse valor.
“O que impressiona nestes números é o poder de regeneração natural de florestas, com baixo custo, sem plantios ou outras intervenções mais caras, apenas baseado na proteção destas florestas secundárias para que elas possam continuar crescendo”, diz a pesquisadora do Inpa Rita Mesquita, líder do Grupo de Pesquisas Pioneiras, que participou dos trabalhos.
Segundo Mesquita, a pesquisa ajuda a compreender a contribuição que as florestas secundárias, junto com o desmatamento evitado, estão dando para mitigar os impactos negativos das mudanças climáticas.
Desde 1991, o grupo de pesquisas Pioneiras do Inpa, que faz parte do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF) e mais recentemente está inserido no INCT-Serviços Ambientais da Amazônia (Servamb), vem monitorando parcelas permanentes de florestas secundárias na área do Distrito Agropecuário da Suframa, ao norte de Manaus, e contribuiu com os dados coletados nos últimos 16 anos para o estudo recém-publicado.
A pesquisadora explica que muitos fatores afetam o potencial de regeneração natural. O histórico prévio de uso é um dos mais importantes. “Assim, existe uma diferença se a área foi pastagem, sofreu mineracão, ou agricultura mecanizada, versus áreas de agricultura itinerante ou exploração florestal, sobre o potencial de regeneração”, diz Mesquita. “Atividades, como proteger as áreas contra o fogo, cercar para evitar o pisoteio pelo gado ou evitar a caça que resulta na perda dos grandes dispersores de sementes, ajudam a favorecer a regeneração natural”, complementa.
Conforme Mesquita, diversas atividades produtivas podem se beneficiar da presença de vegetação secundária na propriedade, como os sistemas agroflorestais, pastagens consorciadas com árvores, manejo sustentável de florestas, que contribuem para mitigar impactos de mudanças climáticas.
“Além disso, a vegetação secundária também contribui com serviços ambientais, como a regulação hidrológica, controle climático e da erosão dos solos, habitat para espécies, principalmente formando corredores ecológicos, e ofertando produtos florestais não madeireiros para populações tradicionais”, diz. “Mas, segundo a pesquisadora, o mais importante ainda é a conservação das florestas nativas e sua proteção contra o desmatamento, principalmente na Amazônia”, completa.
Fonte e imagem: Inpa